sábado, 27 de julho de 2013

Mês de julho - Filmes

Recebi recentemente uma pergunta no Ask.fm da Carla Stech perguntando sobre os filmes que eu assisti esse mês. Como nós já estamos no dia 27, resolvi fazer então uma super postagem falando um pouquinho sobre cada um dos filmes que eu ainda não falei. Fiz postagens individuais para o filme Neco z Alenky - Alice (inclusive atualmente estou lendo o livro, aliás), um sobre toda a franquia de Psicose, incluindo a série Bates Motel, um sobre o filme Valerie and Her Week of Wonders (que eu não vi esse mês, mas como fiz a postagem esse mês, então tá valendo) e também uma postagem coletiva sobre os filmes Vanilla Sky, Estômago e Spring Breakers que assisti no mesmo final de semana.

Lembrando que esse mês eu não vi muitos filmes, porque estava bem preocupada com o lance de achar emprego e também estava com algumas leituras pendentes que eu precisava terminar, coisa que também andei muito relaxada, li praticamente apenas uns dois livros e meio nesse mês e isso me deixa extremamente frustrada. E também assisti algumas séries junto com os filmes, das quais também pretendo falar sobre, mas não nessa postagem, pois pretendo terminar de assistir uma delas antes de falar sobre e quero fazer uma postagem à parte para falar sobre Hannibal que foi uma das séries que vi esse mês e sobre os episódios Fire e Pure de Skins. Agora que tudo já está quase certo na minha vida, eu já baixei alguns filmes que ando querendo ver e já estou planejando falar sobre alguns outros filmes que vi há um tempo atrás e gostaria de falar sobre aqui. Mas uma coisa de cada vez, né? Por hora, vamos aos filmes de julho!

― x ―

1. Pitch Perfect

Um dos grandes dilemas que eu tenho quando a minha melhor amiga vem dormir aqui em casa é entrar em acordo sobre qual filme assistir, visto que ela e eu temos um gosto ao mesmo tempo absolutamente parecido para filmes, mas também absolutamente controverso, então desperdiçamos pelo menos uma meia hora da provável uma hora que ela vai ficar acordada tentando decidir. Eu devo ter mais ou menos uns trinta filmes baixados no meu computador, mas nunca, obviamente, existe algum que ela queira ver e que se encaixe no meu humor do momento.
Aí aconteceu que eu disse pra ela ver o trailer desse filme e assistir na zoeira comigo, já que esses filmes no estilo bobo de comédia americana situados em colégios costumam ser agradáveis (ou idiotas engraçados) pra qualquer tipo de pessoa. Eu não costumo ver comédias, eu até evito todas elas, torço o nariz e admito que tenho preconceito, mas uma das boas coisas de se usar o Tumblr com frequência, é que sempre sabemos quais os filmes são realmente engraçados e não chegam a ser um American Pie da vida, no estilo onde só tem putaria, sexo e chatice.
Pitch Perfect é meio que... um High School Musical zoado, talvez. Eu teria dito Glee, mas como eu nunca assisti a um único episódio de Glee, eu não tenho parâmetro algum para comparar, então vou numa comparação a algo que eu já cheguei a ver alguma vez na minha vida. E o que surpreende mais? Esse filme é bom. E digo ainda mais: esse filme é muito, muito bom! A trilha sonora dele é recheada de músicas atuais como Rihanna, Britney Spears, Lady Gaga e todas essas rainhas e princesas e whatever the fucks do pop espalhadas por aí, mas é um filme muito divertido e bem bonito. Claro que esse tipo de filme sempre tem um propósito, nem que o propósito seja puxar uma lição de moral forte no final e esse também tem, só que essa mensagem e muito bonita: é sobre aceitar as diferenças e mostrar que as pessoas podem conviver umas com as outras e até mesmo serem amigas, independente das suas diferenças mais acentuadas. E não é pra menos: é uma menina mais esquisita que a outra e no final das contas elas fazem um grupo maravilhoso, com seus talentos individuais e aprendem umas com as outras. E ah, como me apaixonei pela personalidade da Amy. A querida Fat Amy - para que garotas magras e idiotas não a chamem pelas costas de gorda, ela mesma prefere se auto denominar simplesmente a Fat Amy. E ela é incrível, uma das minhas personagens favoritas do filme. Eu não digo nem de longe que perdi meu tempo vendo essa película, porque foi uma das melhores surpresas que eu tive entre os filmes aleatórios que eu costumo baixar pra assistir.

A minha nota: ★★★★★






― x ―

2. Ruby Sparks

Quando encontrei esse filme ao acaso, ao ver as promos pelo próprio Tumblr sobre ele, fiquei imaginando se esse seria um tipo de Mulher Invisível gringo e que estava levando o maior crédito de criatividade, sendo que o filme nacional que acabei de citar também é ótimo e ninguém nem conhece lá fora. Aí eu criei uma certa resistência a respeito de Ruby Sparks, mas ao mesmo tempo também, eu queria muito ver, porque parecia muito a minha cara.
A história do filme segue quase no mesmo embalo de Mulher Invisível mesmo, porém é um pouco mais romântico e um pouquinho mais bem trabalhado, em questão de roteiro. Calvin, o personagem principal, é um escritor que está passando por uma fase de bloqueio e é aí onde eu começo a me identificar. E o Calvin é um cara meio fechado, antissocial, sendo assim um pouco mais difícil conseguir criatividade sobre o que escrever, considerando que ele quase não sai de casa. Outra vez eu me identifico. Então ele acaba tendo um sonho sobre uma menina e assim que acorda, resolve escrever sobre ela. E aí ela acaba se tornando real. A garota dos sonhos e da ficção dele acabam aparecendo na sua casa e ela é ainda melhor do que ele imaginava que ela poderia ser. E pronto, o filme me ganhou, apesar de não ser aquela maravilha toda, mas é legal, é relacionável e isso é o que mais importa para mim, às vezes.
Só que as coisas fogem do controle, como era previsível, pois se você tem o controle absoluto sobre uma pessoa, é certo que você vai começar a pensar em formas de deixá-la perfeita, mesmo sabendo que a perfeição real está também em cada defeito que a pessoa possa vir a ter. A Ruby originalmente criada, já era perfeita, porque ela era uma pessoa de verdade, mas aí o Calvin acaba sendo influenciado pelo seu próprio poder e acaba estragando a sua própria criação. Uma hora ele deixa ela absolutamente relapsa e estúpida, depois disso ele acaba deixando ela dependente demais e por fim, ele acaba perdendo ela. Tem essa cena, quase lá pro final do filme em que o Calvin começa a torturar a Ruby, digitando sobre ela na frente dela, pra tentar provar pra nada daqui é real, que é de cortar o coração, quando ele percebe que naquele exato momento ele a perdeu. Ele teve a menina dos sonhos dele nas mãos e a perdeu por desejar que ela fosse perfeita. Como eu disse, posso me relacionar muito com esse filme e por isso gostei tanto dele, apesar dele ser meio monótono.
Calvin no final do filme, ao que se dá a entender, recebe uma segunda chance para começar de novo com a Ruby, sem que ela saiba ou talvez tenha sido uma coincidência apenas, eu não sei, talvez fosse pra soar ambíguo. É aquele tipo de filme bonitinho que a gente quer assistir quando tá na bad pra ficar feliz, ou quando a gente tá num humor leve, pra permanecer leve.

A minha nota: ★★★★☆







― x ―

3. Elena Undone

Esse filme é maravilhosamente lindo e eu vou dizer pra vocês o porquê. Eu sou apaixonada por esses filmes trash de temática lésbica, não é de hoje (entre os meus favoritos, possuo Show Me Love e Lírios D´Água, só pra vocês refletirem um pouco) e esse foi um desses filmes que conquistam o meu coração simplesmente porque são vistos exatamente no momento em que eu precisava vê-los. Ou num momento em que eu queria ouvir alguma coisa dita no filme pra conseguir recuperar a minha fé em algo, então esse filme foi perfeito no momento em que eu vi.
Confesso que a produção dele é péssima, assim como a trilha sonora que é horrorosa, quase parece aqueles hits pop de novela da Globo de 2002 pra menos ainda, mas devo dizer que as atuações e a química entre as duas atrizes - Traci Dinwiddie e Necar Zadegan - foi belíssima, deu muito certo. Não foi forçado como eu vejo em alguns filmes, foi tudo muito natural, acho que justamente pelo fato de que o filme foi um tanto trash.
A história do filme é mais ou menos um documentário sobre almas gêmeas e que não existe momento certo na vida pra que você encontre a sua e muito menos pessoa certa, você pode até mesmo se casar com uma pessoa e formar uma família, mas se algum dia desses tu esbarrar com a sua alma gêmea por aí, vai existir aquele famoso choque, você vai sentir as tais borboletas e vai conhecer o amor. E essa pessoa dificilmente vai ser aquela pessoa que te trata bem, ou aquela pessoa super atenciosa e amorosa, provavelmente ela vai ser uma pessoa com quem você não veja nada em comum entre vocês duas, mas no fundo, é a sua pessoa, é a outra metade da sua alma.
Esse filme me deu esperanças sobre a vida, pelo fato de que, além dele ser baseado totalmente em acontecimentos verdadeiros, mostra um lado bonito do amor, o lado de quando ele dá certo. Eu sempre tive essa inclinação fatalista a respeito de histórias de amor que dão certo, dizendo que o filme só acabou bem justamente porque acabou, mas às vezes eu também me inclino para esse lado de que sim, o amor pode terminar bem ou mesmo nunca terminar, apenas continuar acontecendo.
A história central, é a história de Elena, já casada e com um filho e que, depois de ter formado a sua vida, acaba encontrando em Peyton a sua alma gêmea, acaba se apaixonando total e infinitamente pela primeira vez. E é claro que é difícil para uma mulher que sempre imaginou que era hétero se apaixonar por outra mulher. Esse é outro filme com o qual eu me relacionei e muito, mas me vejo muito na Peyton, tendo que lidar com a Elena e com as vontades dela, com o que ela causou na sua vida. A vontade de ir embora, a certeza de que ela não conseguiria. Foi um filme que mexeu tanto comigo que eu fico extremamente grata em tê-lo baixado sem querer e mais grata ainda por ter resolvido assisti-lo em um dia de chuva onde tudo parecia errado. Foi um filme que deixou minha alma leve por pelo menos alguns dias depois de tê-lo visto.

A minha nota: ★★★★★








― x ―

4. Cashback

Esse foi outro filme que eu achei ao acaso, quando fui buscar no Youtube uma música que gosto da banda Broken Family Band chamada It's All Over, esperava achar apenas aqueles vídeos com montagens de Skins, já que a música pertence à trilha sonora da primeira temporada, mas acabei achando um video com a música e cenas do filme com a atriz Michelle Ryan, aí eu resolvi baixar pra assistir e acabei me surpreendendo bastante.
Eu assumo que o andamento do filme é meio enfadonho, o roteiro dele é meio vazio, mas também é absolutamente poético, quando pegamos a parte artística dele. Não sei se vou saber explicar bem, porque o filme à mim não pareceu como uma espécie de ficção científica, mas tem esse rapaz, Ben, termina com a namorada Suzy, por um motivo que eu foi o que me fisgou a atenção ao filme, ele não conseguia sentir que estava fazendo ela feliz, então ele a deixou, mas depois ele a queria de volta e ela não queria mais, bem típico. Mas a parte bem fictícia é essa habilidade que o Ben tinha de congelar o tempo quando ele queria. Esqueci de mencionar no começo do texto, mas ele estuda numa escola de artes e depois passa a trabalhar em um mercado pra ocupar o seu tempo e não ficar pensando em Suzy, sua ex. O filme é um pouco arrastado, mas acho que a intenção era essa, porque tem um momento que ele diz que faz uma semana e parece que já passou um mês no filme. O que eu achei um pouco relacionável com a própria forma que às vezes o tempo parece correr para mim, quando assumo rotinas em três dias ou em uma semana e parece que estou fazendo aquilo há séculos ou coisas desse tipo.
Aos poucos, Ben consegue esquecer a Suzy e passa a se envolver com uma menina do seu trabalho, a Sharon e seguir com a sua vida. Até que, quando está tudo bem, a Suzy acaba aparecendo de novo apenas pra estragar tudo. O que me prende nesse filme, é exatamente essa forma com que ele parece se arrastar e ao mesmo tempo não ter passado tempo algum, exatamente como o próprio tempo que se arrasta ou corre quando bem entende. E uma passagem do filme que para mim foi a que vai ficar marcada sobre ele, que é quando ele fala pra Sharon algo como "você viu um segundo de uma história que durou apenas dois, mas isso já não importa mais, porque de qualquer forma eu não tenho o poder de voltar no tempo e mudar o que já foi feito".
Cashback é um desses filmes confusos, que quando mais a gente fala sobre ele, pior parece e menos vontade dá de assistir e só quem o assiste pode dizer que ele é bom, mas contando, parece péssimo. Então a única coisa que eu posso dizer é que se tiverem interesse, assistam ao filme, deem uma olhada no trailer e o vejam pela forma mais poética dele.

A minha nota: ★★★☆☆





A Psicose de Norman Bates

Eu fiquei esperando pra fazer esse post sobre Psicose porque queria fazê-lo por completo e para isso eu precisava ter lido o livro e assistido a todos os filmes. Me interessei mais pela história logo após o lançamento da série Bates Motel, até então eu só conhecia o filme, mas nunca tinha assistido com a devida atenção, assim como a maioria das coisas que eu acabo ignorando por um longo tempo apenas para descobrir mais tarde que são coisas geniais e que eu estava perdendo muito ao ignorá-las. Então hoje irei dar o meu parecer sobre o livro de Robert Bloch, o filme dirigido pelo Hitchcock, os outros três filmes dirigidos por outros diretores, mas que continuam o legado e, claro, sobre a atual série Bates Motel. Então coloca pra tocar o tema de Psicose e acompanhe os meus devaneios sobre esse clássico.

Este texto contém spoilers sobre o livro, os filmes e a série.

Clique para ouvir o famoso tema de Psicose por Bernard Hermann.
― x ―

Alfred Hitchcock e Anthony Perkins,
o simpático Norman Bates de 1960
Temos Norman Bates, esse sujeito aparentemente calmo, comum e absolutamente gentil que toca um motel em Fairvalle - o Motel Bates - que acabou saindo das vistas das pessoas que chegavam na cidade quando a nova estrada é construída. Mesmo assim Norman e sua mãe resolvem continuar tocando o negócio, e vez ou outra aparecem alguns hóspedes que se perdem no caminho ou não conhecem direito a cidade. Porém, nada é o que parece. Norman possui um lado que nem todos conhecem. Aliás, Norman possui um lado que apenas ele e sua mãe conhecem. E coisas estranhas acontecem no motel dos Bates. Pessoas somem, uma estranha mulher está sempre na janela observando tudo e à todos e Norman não é um rapaz, mas às vezes age como um. E é um rapaz obediente, sempre de prontidão para resolver os problemas para sua mãe e reciprocamente, esta também se dispõe a fazer tudo pelo seu filho e tudo para protegê-lo. Ah, Norma Bates! Jamais deixaria que se aproximassem do seu filhote, o indefeso Norman. A própria mãe possui um humor variável, oras ama Norman e quer seu bem, oras está sempre a xingar o rapaz (que na verdade é já um homem feito). E ele apenas fica lá, parado, ouvindo com a cabeça baixa. Afinal, mães sempre sabem o que é certo. "E vocês não a conhecem como eu conheço!", é o que diria Norman.
As coisas mudam quando a verdade é revelada: a Senhora Bates, na realidade, já está morta, mas não enterrada.

Psicose é uma incrível e fascinante história sobre obsessão e um personalidade dissociativa (múltiplas personalidades). E Norman Bates é um cara tão simpático que por vezes a gente chega a se sentir mal por se ver dizendo "ah, mas coitado dele!" ou mesmo por não conseguir ver tanta maldade em seus atos.
Norman Bates não é, para mim, um vilão. O considero no máximo um anti-herói com suas razões - embora não muito corretas -, mas certamente justificadas.

― x ―

PSICOSE - O LIVRO: O livro é a introdução de toda história. Muito provavelmente, as pessoas só tomam conhecimento dele depois de ver o filme e conhecem a história, mas se por acaso você teve a oportunidade de ler Psicose sem sequer saber sobre o que se tratava e sem ter sido influenciado pelo filme, saiba que eu o invejo solenemente. Eu li o livro bem depois de ver a série Bates Motel e assistir pelo menos umas duas vezes ao filme, mas o livro tem bastante diferença do filme, como características físicas do próprio Norman (que no livro é gordo e beirando os seus 40 anos, já no filme ele é bem mais jovem e muito magro). Se você também não viu o filme, eu sugiro que não o faça antes de ler o livro. 
Aqui nós temos a essência pura de Psicose, a apresentação do personagem Norman Bates e suas duas outras personalidades: Norma Bates e Normal Bates. No livro sabemos que Norman, na maior parte do tempo, é essa criatura doce e inofensiva, que parece um menino, é inocente, muito prestativo e tudo que ele faz é ficar cuidando do motel para sua mãe e comendo docinhos. Ele não bebe, ele não leva garotas pra casa, ele não faz nada de errado, apenas mantém-se com seus hobbies peculiares - como a taxidermia. Norman tem adoração pela mãe, faz tudo que ela manda, mas às vezes sai do controle. E aí temos Norma Bates, a mãe. Essa entra em cena quando vê que o filho está sob algum tipo de ameaça, ou pelo menos na cabeça dela. Moças são perigosas, realmente perigosas e nenhuma delas presta. São todas putas e Norman não deve deixar que elas o levem na conversa, é o que Norma sempre diz. E se ele não consegue se segurar ou se a vontade de olhar pelo buraquinho na parede e espiar for mais forte que ele, Norma estará ali para cuidar do seu menino.
E tudo estava muito, muito tranquilo, Norman estava lidando com a sua vida muito bem até o aparecimento de Mary Crane, uma moça jovem, bonita. Ameaçadora, aos olhos de Norma. E logo ela resolve que está na hora de dar um jeito na vadia, é o que pensa. E Norman pode dormir profundamente, pois mamãe está logo ali para ampará-lo.
E por fim, temos Normal Bates, que só tomamos conhecimento dele no final do livro. Normal é quem tem a sede de matar, é ele quem é capaz de calcular minuciosamente o que é necessário para se livrar de um corpo e a força que precisa para matar alguém e também é esta a personalidade que sabe manter as aparências e viver como uma pessoa "normal". E o mais importante: o desejo. O desejo de possuir essas mulheres e logo, o desejo de matá-las, quando entra em conflito com suas outras personalidades. E Norma é seu álibi, é tudo culpa dela, ele jamais faria algo assim, não ele, não Norman. Mas é o mesmo que diria Norma, ela jamais seria capaz de fazer mal sequer a uma mosca.

A minha nota: ★★★★★

Trecho do livro: 


"Segundo o Dr. Steiner, Bates era agora uma personalidade múltipla, dotada pelo menos de três facetas. Havia Norman, o menino que precisava da mãe e odiava qualquer coisa ou qualquer pessoa que ficasse de permeio entre ele e ela. Depois havia Norma, a mãe, que não tinha licença de morrer. O terceiro aspecto pode-se- chamar de Normal, e esse correspondia ao Norman Bates adulto, que tinha de viver a rotina cotidiana e ocultar aos olhos do mundo a existência das outras personalidades. Claro, as três não eram entidades completamente distintas, e cada uma continha elementos da outra. O Dr. Steiner chama isso de "trindade maldita". Mas o adulto Norman Bates se controlava suficientemente bem, a ponto de receber alta no hospital. Voltou a dirigir o motel, e foi aí que a tensão o acometeu. O que mais lhe pesava, enquanto personalidade adulta, era o sentimento de culpa pelo assassínio da mãe.

Conservar intocado o quarto dela não era suficiente. Queria igualmente conservá-la — conservá-la fisicamente — para que a ilusão da sua presença viva lhe suprimisse o sentimento de culpa. Aí foi que ele a trouxe de volta — na realidade tirando-a da cova e dando-lhe uma nova vida. Deitava-a na cama quando a noite descia, vestia-a e levava-a para baixo durante o dia. Naturalmente ocultava a estranhos tudo isso, e o fazia bem. Arbogast devia ter avistado o vulto da mãe na janela do segundo andar, mas provas não houve de que alguém a tivesse visto em todos esses anos.
Segundo o Dr. Steiner, Bates era agora uma personalidade múltipla, dotada pelo menos de três facetas. Havia Norman, o menino que precisava da mãe e odiava qualquer coisa ou qualquer pessoa que ficasse de permeio entre ele e ela. Depois havia Norma, a mãe, que não tinha licença de morrer. O terceiro aspecto pode-se- chamar de Normal, e esse correspondia ao Norman Bates adulto, que tinha de viver a rotina cotidiana e ocultar aos olhos do mundo a existência das outras personalidades. Claro, as três não eram entidades completamente distintas, e cada uma continha elementos da outra. O Dr. Steiner chama isso de “trindade maldita". Mas o adulto Norman Bates se controlava suficientemente bem, a ponto de receber alta no hospital. Voltou a dirigir o motel, e foi aí que a tensão o acometeu. O que mais lhe pesava, enquanto personalidade adulta, era o sentimento de culpa pelo assassínio da mãe.
Conservar intocado o quarto dela não era suficiente. Queria igualmente conservá-la — conservá-la fisicamente — para que a ilusão da sua presença viva lhe suprimisse o sentimento de culpa. Aí foi que êle a trouxe de volta — na realidade tirando-a da cova e dando-lhe uma nova vida. Deitava-a na cama quando a noite descia, vestia-a e levava-a para baixo durante o dia. Naturalmente ocultava a estranhos tudo isso, e o fazia bem. Arbogast devia ter avistado o vulto da mãe na janela do segundo andar, mas provas não houve de que alguém a tivesse visto em todos esses anos.
— Então o horror não estava na casa, murmurou Lila! — estava na cabeça dele!
Disse Steiner que essa relação é a mesma que há entre o ventríloquo e seu boneco. A mamãe e o Norman menino deviam ter mantido longas conversas. E o Norman adulto provavelmente racionalizava a situação. Era capaz de se fingir normal, mas quem sabe o que na realidade ele percebia? Tinha interesse por ocultismo e metafísica. Provavelmente acreditava totalmente no espiritismo, assim como acreditava no poder de preservação da taxidermia. Não só isso, mas lhe era impossível rejeitar os outros aspectos da própria personalidade, sem ao mesmo tempo
destruir a si mesmo. Vivia três vidas simultaneamente. E o interessante é que as ia vivendo muito bem, até que...
Sam hesitou, mas Lila acabou a sentença que ele ia proferir:
— ...até que Mary apareceu. Aí aconteceu alguma coisa e ele a matou.
— Foi a mãe que a matou — retificou Sam. — Foi Norma que matou a sua irmã. Não há um jeito de apurar toda a verdade da situação, mas o Dr. Steiner tem a certeza que, ao surgir uma crise, Norma se transformava na personalidade principal.. Aí Bates começava a beber e ela se impunha. Durante essas omissões, ele vestia a roupa da mãe. Depois a escondia, pois em sua opinião, ela era a verdadeira assassina e tinha de ser protegida.
— Então o Dr. Steiner está certo de que ele é louco?
— Psicopata — é a palavra que usou. Sim, receio que sim. Vai aconselhar que recolham Bates ao Manicômio Estadual pelo resto da vida."

― x ―

PSICOSE (1960): O filme de Alfred Hitchcock é a versão para o cinema do livro de Robert Bloch e poderia dizer que é uma versão quase fiel da história. Como eu disse sobre o livro, temos as particularidades do filme para o livro, como a forma física de Norman, a exclusão da terceira personalidade dele, pois no filme só somos colocados diante das duas dominantes: Norman e Norma. E outros pequenos detalhes como o nome com o qual a Marion assina o check-in no motel e outros pequenos detalhes, mas de um modo geral, a obra é definitivamente fiel ao que propõe o livro. E não se pode dizer que Anthony Perkins não fez jus ao Norman, porque ele simplesmente é o Norman. Apenas isso e não há quem tire seu mérito.
Claro que, para o filme de 1960 - e perdoem-me os fanáticos - algumas cenas chegam a ser absurdamente cômicas. Como a maioria das mortes no filme, elas são hilárias e é até por esse motivo que eu não consigo levar esse filme como um filme de terror, mesmo sabendo que ele é um dos maiores clássicos do cinema desse gênero. Eu respeito a produção, mas assistir a um filme desses nos dias atuais, com todos os recursos que existem e que deixam os filmes realmente assustadores não há nada que me deixe verdadeiramente amedrontada em Psicose. Mas isso é bem relativo, devo frisar bem essa parte. 

A minha nota: ★★★★★




― x ―

PSICOSE II (1983): Dirigido por Richard Franklyn e ainda com Anthony Perkins como Norman Bates. O filme mostra um avanço de vinte anos no ocorrido, logo quando Norman tem a permissão de voltar para casa depois de ter ficado por tanto tempo no sanatório e tudo parece correr bem, mas nada nunca deixa de ser algo que já foi um dia, principalmente quando existem pessoas que conhecem o seu passado e resolvem trazê-lo de volta. 
É o que acontece com Norman na trama dessa sequência, depois de vinte anos, quando tudo parecia ter finalmente acabado, ele encontra trabalho numa lanchonete na cidade e quer apenas viver uma vida tranquila, mas logo quando conhece Mary (parece ser coincidência, mas acabamos por ver que não é) as coisas começam a ficar novamente confusas para Norman. Mary no início parece querer estar na companhia de Norman e gostar dele, o que de fato na minha opinião faz sentido, porque ela sentiu realmente um interesse por ele e pela loucura dele. Porém Mary é filha de Lila, irmã de Marion Crane que foi assassinada por Norman vinte anos atrás. Lila desde o início é totalmente contra a libertação de Norman ao mundo, alegando que ele é um psicopata perigoso e que não pode ficar solto por aí, mas as autoridades acreditam que ele tenha mudado e esteja "curado" o suficiente para estar em liberdade.
Lila não aceita isso, por medo e por vingança ao que aconteceu com Marion naquela época , então ela e a filha, Mary, criam esse plano de atormentar Norman e fazer com que ele enlouqueça novamente. Começam a deixar bilhetes em nome da senhora Bates pelos lugares e brincar com a mente do já fragilizado Norman.
É óbvio que o final disso não é nada bom e, infelizmente, Norman volta a atacar, mas dessa vez com a plena consciência de que sua mãe está mesmo morta. 
Também somos apresentados a uma faceta curiosa da história de Norman, em que conhecemos a suposta mãe verdadeira dele, uma senhora que clama ser irmã de Norma e que seria sua mãe biológica. Mas a senhora Spool também não dura muito tempo e logo ela toma o lugar da senhora Bates no antigo quarto. Tudo volta a ser o que era no começo.  

A minha nota: ★★★★☆




― x ―

PSICOSE III (1986): Dirigido pelo próprio Anthony Perkins, esse toma uma atmosfera bem mais intensa que a dos anteriores, sendo, para mim, o mais forte da franquia e o mais sangrento.
O filme começa de forma um pouco perturbadora, em um convento, onde uma das freiras está tentando cometer suicídio e em meio a uma confusão, acaba causando a morte de uma das irmãs do convento, mas ainda assim acredita que foi a Virgem Maria quem lhe salvou a vida e resolve abandonar o convento e fugir. Ela acaba pegando carona com um maluco chamado Duane que está indo em direção a Fairvalle.
Enquanto isso, no Motel Bates, desde o incidente com o a senhora Spool (ainda dada como desaparecida) tudo parece estar normal como deveria ser. Norman continua tocando o motel como sempre fez e nada havia saído do controle. Ele havia aprendido como controlar a mãe e tudo estava no seu devido lugar, calmo, tranquilo, absolutamente pacífico.
Mas isso até chegar ao motel essa moça com as mesmas iniciais de uma velha conhecida - e vítima - de Norman: M.C. que é Maureen Coyle, a freira fugitiva que está tentando buscar alguma paz de espírito ou um fim pra sua vida.
Maureen acaba se afeiçoando a Norman depois de este ter-lhe salvo a vida, mal sabendo ela que a sua intenção na realidade era matá-la, mas dadas as circunstâncias, a única coisa que ele poderia fazer era ajudá-la. Norman também se vê afeiçoado pela moça e vemos aquele Norman doce, prestativo e pronto pra ajudar quem quer que chegue ao seu motel. Então é óbvio que não vai demorar muito para que Norman assuma as rédeas da situação, afinal é apenas mais uma das vadias que querem desviar a atenção de seu filho.
E além disso, ainda tem uma jornalista chata que fica seguindo o Norman por todos os cantos e querendo que ele lhe diga coisas.
É uma boa continuação, também. Com o mesmo tipo de cenas de mortes cômicas. Esse é o filme da franquia que possui mais mortes, praticamente todo mundo morre no filme. Até a mãe já morta do Norman morre de novo. E é bem mais intenso também, o que faz ele ser muito interessante do começo ao fim. Não estragou em nada a história, mas também não diria que acrescenta em muita coisa, apenas pela apreciação ao querido Anthony Perkins dando o show de sempre como Norman Bates.

A minha nota: ★★★★☆




― x ―

PSICOSE IV: THE BEGINNING (1990): Dirigido por Mick Garris, o filme tem uma narrativa e uma proposta excelentes e, depois do original, é provavelmente e facilmente o meu favorito da franquia. Traz no presente Anthony Perkins como Norman e Henry Thomas como o Norman adolescente.
O filme é quase por completo narrado por Norman. Uma rádio local no início está fazendo uma matéria sobre "matricidio" (pessoas que mataram as próprias mães) com o ex-psiquiatra de Norman e um famoso caso da época. Mas em uma certa altura, a rádio recebe uma ligação de um homem que se identifica como Ed - que na verdade, como vemos, é Norman Bates. 
A partir daí, Norman começa a contar sobre toda a sua adolescência, sobre as meninas que ele matou, sobre como ele matou a sua própria mãe, sobre como ele era tratado por ela e a perturbação do personagem em seu auge. Norman nunca esteve curado e alega que irá fazer novamente, que irá matar alguém. E esse alguém é sua esposa, pois, Norman acaba se casando com a sua psicóloga que acredita que ele estivesse curado. 
O filme todo intercala entre Norman falando com a locutora da rádio e com as lembranças que ele possuía de sua infância e temos uma boa noção dos porquês de Norman. E por isso eu digo que Norman não é um vilão. Claro que ele tenta matar a esposa também, mas ela, por incrível que pareça, acaba se salvando. Esse filme, por ser um dos meus favoritos da sequência, é um dos quais eu não consigo por em palavras todas as coisas incríveis que acontecem, todas as cenas marcantes e o quão bom ele é. É, de todos, o que eu mais recomendo. 
E um viva para a trilha sonora desse filme, que depois de dois filmes sem o tema original de Psicose, traz de volta a musiquinha perturbadora que eu tanto gosto do primeiro filme. Esse sim é pra aplaudir de pé!

A minha nota: ★★★★★




― x ―

BATES MOTEL (2013) - A SÉRIE: Essa série! Por onde eu começo a falar sobre essa série? Quando descobri sobre a existência dela, foi pelo Tumblr e eu agradeço por isso.
A série é estrelada por Freddie Highmore como Norman Bates e Vera Farmiga como Norma Bates e é uma espécie de prelúdio a todos os acontecimentos entre o livro e todos os filmes. 
Muitas foram as críticas que eu li sobre a série, principalmente pelo fato de ela se passar nos dias de hoje, se tratar no caso, de um seriado contemporâneo (assim como as versões modernas de Sherlock e Jekyll, por exemplo), eu sou alguém que não vê problema algum nisso, modernizar clássicos, apresentá-los à nossa geração que é tão carente de boas histórias como Psicose.
Mas eu posso facilmente quebrar o argumento de que a série não poderia ser contemporânea com o próprio livro que leigos que acabam de conhecer a série, certamente não possuem o devido conhecimento sobre. 
A questão é a seguinte, o livro na época em que foi lançado já era uma história moderna demais para o tempo em que se passava. Aí temos as críticas que vão contra a mixagem entre o contemporâneo e os costumes antiquados da Norma, as vestimentas das pessoas e toda essa lenga-lenga de crítico de internet que gosta de botar defeito em tudo. Só digo apenas que a descrição do livro sobre a Norma e principalmente sobre o quarto dela, matam esse argumento desagradável. Não vou saber agora em qual trecho exato estava, mas lembro muito bem de como a Lila descreveu o quarto ao entrar lá, como se estivesse entrando em um museu, de tão antiquado que tudo aquilo parecia, era como se o tempo dentro daquele lugar tivesse parado e não corresse mais. E o que temos na série? Uma cidadezinha pequena, de interior, com costumes retrógrados e principalmente, a Norma, com seus costumes antiquados. 
E tanto Freddie Highmore quanto a Vera Farmiga fazem um trabalho fantástico na série. É como se o Freddie incorporasse o Anthony Perkins, até o sorriso deles é igual. Eu não tenho do que reclamar e ainda mais por encontrar tantas referências dos filmes anteriores e do livro no desenrolar da trama, em cada pequeno detalhe. 

A minha nota: ★★★★★




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Devaneios de Alice

O filme da vez é checo Neco z Alenky de Jan Svankmajer. Não importa qual seja a sua idade ou o gosto cinematográfico, sempre existir ao menos uma versão da Alice No País das Maravilhas de Lewis Carrol que será capaz de encantar aos olhos de qualquer um.


― x ―

Alice (Kristýna Kohoutová)
Eu, particularmente, me sinto fortemente inclinada à versões que mostrem o lado mais doentio ou macabro dos contos de fadas e fantasias, desses contos que tomaram uma atmosfera inocente e infantil, mas que, como todos sabemos não eram dessa forma originalmente. Os originais dificilmente poderiam ser lidos para uma criança antes de dormir, pois eram histórias repletas de carnificina, perturbações e todo o tipo de horrores que se possa imaginar, como o folclore. 
E é isso que essa versão de Alice mostra, é dessa forma que as aventuras da menina como transcorrem, como um sonho ou um devaneio excêntrico. Não chega a ser assustador, mas certamente é bem perturbador. Alice para mim sempre será uma das histórias mais cheias de simbolismos, então nada realmente é o que é ou é, há muito contexto e muita interpretação por trás desses deslumbramentos. 
Não conheço nada do trabalho do Svankmajer, mas certamente depois desse filme, quero com toda certeza assistir a outros filmes dele. O estilo dele é bem peculiar (e bem macabro) utilizando formas simples e muito trabalho com stop motion, que contribui ainda mais para a atmosfera surreal da película.
O filme todo é uma viagem, onde mergulhamos junto com Alice em suas aventuras. Quem nunca quis se perder no país das maravilhas um dia, não é mesmo?

A minha nota: ★★★★★

TRAILER


― x ―